sexta-feira, 25 de julho de 2014

"Um dia vais dar-me razão!"

- Por: Lara Caetano -



Quem é que nunca ouviu esta frase durante a sua adolescência? Parece que ainda ouço a voz da minha mãe:

- Aonde vais, rapariga?

- Vou ali, não esperes acordada por mim! - dizia-lhe eu enquanto batia com a porta da rua, e corria para não ter que lhe responder a mais nenhum inquérito! Lembro-me de ouvi-la a praguejar "Aquela rapariga põe-me maluca!".

Recordo de chegar a casa de madrugada, em bicos de pés como se tivesse o peso de uma pena... sorrateiramente dirigia-me ao quarto, quando uma luz se acendia e se ouvia uma voz: São horas?

Quem, mas quem era o tolo para ficar acordado até uma hora daquelas só para me ver entrar? Preocupação com o quê? Afinal de contas só estava ali no fundo da rua! Oh mãe, vá la! Menos, muito menos! Eu já sou crescida!

Tantas as vezes que fiquei chateada e aborrecida, afinal de contas para mim aquilo eram problemas de confiança.

"Quando tiveres filhos quero ver! Depois vais dizer: Ai jesus que ela tinha razão!" Quem, eu? Eu nem sequer quero filhos! E se tiver vou ser bem mais liberal.

Hoje, ao lembrar-me das minhas traquinices, penso: Meu Deus, a mulher tinha razão! E não foi preciso deixá-lo crescer, bastou nascer. É um medo constante que me invade, de tudo o que lhe possa fazer mal, e ao mesmo tempo um sentimento de impotência porque sei que não vou poder defendê-lo de tudo. É um amor que dói. Daqui nascem as dúvidas: e quando ele começar a querer descobrir o mundo, será que vou ter a capacidade de o ensinar a distinguir entre o bem e o mal, como a minha mãe fez? Terei eu metade da sua sabedoria? Como irei reagir? Dar-lhe-ei a sua liberdade?

Actualmente ouço assim: "Já me dás razão? Anda que agora tu vais ver o que eu passei contigo!" 
À minha mãe deixo um beijo e um muito obrigado, sem ela não seria o que sou hoje, e espero que o meu filho tenha a mãe que eu tive.

De uma coisa estou certa, a minha tão desejada noite de sono deve estar bem longe :)

E vocês, já pensaram neste assunto?

2 comentários:

Angelana80 disse...

A Matilde tem apenas 5 meses e já me preocupo com assuntos desses ;) Como fazer para que possa aproveitar a sua juventude com todos os perigos que existem? Não a quero proibir de disfrutar da sua adolescência porque o tempo não volta atrás. Em contrapartida tenho pavor que alguma coisa lhe possa acontecer. Gostava nessas saídas noturnas poder transformar me num anjo da guarda que a protegeria de todos os males. Não vale a pena stressar já com isso. Veremos...

Joana Cunha disse...

Também eu já penso nisso...com uma bebé de 5 meses e meio. Vou ficar como a minha mãe ficava, acordada, de coração nas mãos. E não é porque não confie nela, é porque a quero proteger de tudo, para sempre. Quero ter forças para a aconselhar da forma menos chata possível, e para lhe dar asas e permitir que descubra o mundo sozinha, com o que isso tem de bom e de mau, mas evitando o pior, com os meus conselhos. Como queria virar mosca quando ela saísse... Vou ser o que sou, uma mãe galinha, ou muito me engano.