sexta-feira, 18 de julho de 2014

Amamentação e aleitamento - as nossas experiências #3

Por Joana - Mãe da Maria Leonor

Amamentar sempre foi uma vontade, um sonho, uma convicção... Lembro-me que o meu maior medo era não ter leite, porque ouvia imensas mães de todas as idades a referirem que não tiveram leite. Nas aulas de preparação durante a gravidez, referi isso mesmo à enfermeira - "tenho medo de não ter leite, mas queria tanto poder amamentar" - e ouvi uma resposta que demorei para assimilar: "todas as mães têm leite, às vezes é preciso estimular, mas nunca viram nenhuma cadelinha ou porquinha ou qualquer mamífero sem leite, certo? Se tens uma dúvida dessas, se calhar não queres assim tanto". Foi uma resposta descabida, ríspida... mas hoje percebo-a. Há as mães que por algum motivo não tiveram mesmo leite infelizmente, o corpo não correspondeu... mas há um gigante número de mães que não quiseram, ou não suportaram as dores, ou as dificuldades que são várias, e dizem não ter tido leite porque lhes custa assumir à sociedade, sentem-se más mães.

Tive a Leonor por cesariana, o colostro apareceu naturalmente, ela tanto pegava bem como mal, aprendeu com Aero-om no mamilo colocado pela enfermeira, e mamilos de silicone por eu quase não ter mamilo. Foi difícil, foi tão difícil... quase arrisco a dizer que foi a área em que tive mais dificuldades para além das cólicas. Eram gretas, bolhas, sangue por todos os lados, os mamilos de silicone com os reservatórios cheios de sangue misturado no leite, e elas diziam que não fazia mal, e perguntavam-se se conseguia continuar a tentar. Diziam "força mamã, vai passar!". Tanto que me ajudaram todas as enfermeiras do hospital da Póvoa de Varzim, estou-lhes grata para sempre! Dores atrozes, mais do que o corpo aguentava... entrava em choque, tremia, os músculos doíam de tanto contrair com a dor, revirava olhos, chorava, mordia fraldas de pano, apertava a mão do marido, e ele presenciava o sofrimento. Quando era hora de mamar e eu dizia à minha Nô "vamos papar, meu amor?", ele olhava para mim e dizia "és uma boa mãe". E eu, com aquela ajuda dele, enchia-me de coragem e lá ia... ora doía do início ao fim, às vezes uma hora na mama... ora doía no início e depois habituava e suportava melhor... Ora mamava a toda a hora (picos de crescimento), ora tinha que a acordar para mamar, mas era sempre doloroso. Nada ajudava a curar, estive com dores incríveis durante 1 mês e meio... até que a minha cunhada, a quem muito agradeço, me ofereceu um pouco do seu creme, Cicalfate da Avène, coloquei três vezes apenas, e os mamilos ficaram 100% curados em apenas um dia, um dia! Ai como queria tê-lo encontrado mais cedo... Nunca mais precisei de cremes nenhuns, mamilos de silicone, nada. Felizmente não passei pelas dores de subida de leite. Nunca tive leite a mais, era sempre o suficiente para ela, felizmente, ao menos isso. E não nego, desde que se alimente o nosso bebé com todo o amor do mundo, é sempre válido e é o que realmente importa, mas como me sinto num mundo de magia ao vê-la crescer com alimento produzido pelo meu corpo! 5 meses depois ainda me soa a magia, a natureza consegue ser perfeita mesmo. Infelizmente, como é bastante obstipada (esteve 2 meses a fazer cocó só com estimulação), tivemos que introduzir fruta e sopa em apenas uma refeição; é a refeição responsável por fazer os intestinos já funcionarem bem sozinhos, e eu continuo feliz a amamentar no resto das refeições :) Espero conseguir até aos 6 meses (está quase), e depois até ela querer, e o leite a alimentar como até aqui :)

Complicado é gerir comentários que são contra-amamentação, a mania que as pessoas têm de dar palpites, de perguntar, de duvidar, etc. Já foi tão dificil, e ainda ter que ouvir "se lhe dás de mamar muito tempo ainda fica viciada", e agora "ainda bem que come sopa e fruta, faz-lhe bem comer outras coisas, a criança não pode viver só de leite, fica viciada... nem fazia cocó, e agora já faz!". É complicado de gerir... mas nós, mães, somos capazes de tudo. Ouve palpites quem dá um biberão e quem dá a mama, e todas somos mães, amamos os nossos filhos e seguimos o nosso instinto, e do nosso bebé e do nosso instinto... ninguém mais entende como nós mesmas :)

2 comentários:

Hoje Vou Casar Assim disse...

Admiro-te pela forma como escreves: clara, honesta e cheia de sentimento.

E é bom saber que, apesar das complicações, tudo se compôs :)

beijinhos a ti e à Leonor

Joana Cunha disse...

Obrigada querida :)
beijinhos também para ti e para a Edna :)