sábado, 19 de julho de 2014

Amamentação e aleitamento - as nossas experiências #4


- Por: Patrícia Oliveira -

Apesar de sempre ter tido vontade de amamentar, tentei nunca criar grandes ilusões, precisamente por ter a noção de que pode ser muito complicado e de que pode haver certos problemas com o bebé e/ou com a mãe que impossibilitem a amamentação.
Sabia que (quase) tudo era imprevisível, tanto no parto como antes e depois dele, e tentei mentalizar-me para as eventualidades ou para as surpresas. Um bom exemplo disso é ter comprado a bomba apenas na condição de a poder devolver no caso de eu não poder amamentar.

De qualquer forma, e também devido à minha inexperiência, decidi frequentar workshops e cursos sobre amamentação, falar com enfermeiros e médicos, falar com outras mães e ler bastante. Queria estar informada, até porque isso poderia facilitar a resolução de problemas. É certo que conheço mães que passaram por momentos complicadíssimos mesmo estando informadas (e que dizem que o que tinham aprendido não valeu de nada), mas também conheço outras que dizem que teria corrido tudo muito melhor se soubessem 'o que sabem hoje'.

Entretanto, e por recomendação de uma amiga, fui colocando Purelan (lanolina) todos os dias, nos 2 meses que antecederam a data prevista para o parto. Este creme hidrata os mamilos e previne a formação de gretas. Não sei se teve efeito ou se eu tive simplesmente sorte, mas a verdade é que não tive nenhum problema nem nenhuma dor na zona de aplicação do creme.
Também comprei as conchas da Medela para usar logo desde o início, de forma a que os mamilos pudessem arejar.

Nas horas a seguir ao parto, a adaptação foi um bocadinho estranha. Eu estava fraca e tinha dores, e a bebé era muito pequenina e estava sempre a dormir. Sugeriram que eu amamentasse deitada, e assim fiz, se bem que não me habituei à posição. No dia seguinte, a bebé teve que ser transferida para outra unidade, continuando eu internada no mesmo sítio. Eu não poderia estar com a minha filha durante a noite, e durante o dia apenas poderia deslocar-me lá acompanhada por uma funcionária do hospital, e teria que conjugar isso com os horários das minhas refeições (tentei sempre alimentar-me bem e beber muita água). Então tentei (juntamente com o meu marido) encontrar alternativas para amamentar e para estimular a produção de leite. Tinha ouvido histórias de pessoas que não conseguiram amamentar por terem passado por situações parecidas, e fiquei com receio. A verdade é que não houve apoio dos profissionais, ao contrário do que eu estava a contar. Não só não me ajudaram a encontrar alternativas, como desmotivaram e disseram que, numa situação daquelas, seria inevitável dar leite adaptado. Mesmo assim, fizemos um esforço e conseguimos que eu pudesse estar com a bebé de 3 em 3 horas para dar de mamar (de facto, estava quase sempre lá ou a caminho de lá, porque a bebé demorava em média 1h a mamar, eu demorava uma eternidade nas deslocações, por causa da distância e das dores, e tinha que esperar, na ida e no regresso, por alguém disponível para me acompanhar…  já para não falar das esperas durante as trocas de turnos) e que durante a noite uma funcionária levasse lá o leite que eu tirara 1 hora antes. Afinal, a bomba fez muito jeito!

Os momentos em que estávamos com a nossa filha eram deliciosos! Eram os nossos primeiros momentos a 3, e foi muito bom sentirmos que éramos uma família e que estaríamos sempre juntos, independentemente do que acontecesse.
Enquanto eu amamentava e ajudava a bebé a ficar com o nariz liberto para respirar (o que não era nada fácil, por ela ser tãaaao pequenina), o meu marido fazia de tudo para que ela não adormecesse. Tinha mesmo que ser um trabalho em equipa.

Foi também isso que deu forças para enfrentar todos os comentários negativos dos profissionais (muitos dos quais eram opostos ao que eu tinha aprendido nos cursos e nos workshops, alguns feitos naquele mesmo local).

Uns dias mais tarde, conseguimos que a bebé fosse transferida para uma outra unidade, onde eu poderia estar com ela a tempo inteiro. As minhas dores (normais de um pós-parto) eram muitas, e as condições para a minha estadia eram péssimas, mas tudo se conseguiu.

Apesar destas dificuldades iniciais, sobretudo a nível de logística, a amamentação tem corrido muito bem. A bebé sempre mamou com muita frequência, e opto pela livre demanda. A verdade é que ela tem crescido a um ritmo muito bom, acompanhando a curva de crescimento divulgada pela OMS. Os percentis (semelhantes para o peso e para o comprimento) são relativamente baixos, mas os dos pais também não são nada altos, e quem sai aos seus… ;)

Felizmente, tenho tido muito apoio da família, e tenho conseguido relativizar os palpites externos, que muitas vezes revelam bastante desconhecimento e falta de informação.

Quando tiver um outro filho, claro que aproveitarei os conhecimentos que adquiri, mas tentarei de novo não criar ilusões e lembrar-me de que tudo pode acontecer e de que cá estaremos para nos adaptar às situações.

1 comentário:

Joana Cunha disse...

Gostei imenso deste teu testemunho, melhor explicado impossível :) De facto há que ignorar palpites e sugar todo o apoio que nos chegue e ajude a ultrapassar as dificuldades. Correu tudo bem, e é tão bom que assim seja quando se quer :)